A visão na infância é cercada de mitos e desinformações. Apesar da visão ser essencial no desenvolvimento infantil, muitos pais desconhecem os cuidados básicos que precisam ser adotados para garantir que o sistema visual se desenvolva corretamente.
Por isso, hoje vamos falar dos principais mitos e verdades ligados à saúde visual na infância, com a ajuda da oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, especialista em estrabismo.
1- O teste do olhinho é suficiente para avaliar a saúde visual do bebê
O Teste do Reflexo Vermelho (TRV), popularmente conhecido como ‘teste do olhinho’, é um exame de triagem, realizado ainda na maternidade, em todos os bebês.
Na maioria dos estados é assegurado por lei, tanto pelo Sistema Púbico de Saúde (SUS), como pelos planos de saúde.
O teste do olhinho apresenta um baixo custo, é indolor, não invasivo e rápido. O principal objetivo é diagnosticar precocemente doenças oculares congênitas, como a retinopatia da prematuridade e o glaucoma congênito, por exemplo.
Entretanto, é um exame preliminar que não serve para diagnosticar erros refrativos e outras doenças oculares típicas da infância que podem surgir após o nascimento.
Ou seja, a recomendação é levar o bebê para uma consulta oftalmológica ainda no primeiro ano de vida.
2- Toda conjuntivite é tratada com antibióticos
Apenas as conjuntivites bacterianas são tratadas com antibióticos. Em geral, essa forma da doença se resolve dentro de 7 a 14 dias. Por ser infecciosa, exige que a criança seja afastada de suas atividades, o que também ocorre na conjuntivite viral.
A conjuntivite é uma infecção que a afeta a conjuntiva (tecido que reveste a parte da frente do globo ocular). É uma doença muito comum na infância, principalmente entre as crianças e bebês que frequentam creches e escolas.
A conjuntivite pode ser causada por vírus e bactérias e nessa forma é chamada de conjuntivite infecciosa. Existe também a conjuntivite alérgica/irritativa, normalmente prevalente nas crianças que têm outros tipos de alergia, como rinite e asma.
O primeiro cuidado a perceber os sinais e sintomas de uma conjuntivite é levar a criança ao oftalmopediatra. Somente o médico será capaz de identificar a causa da conjuntivite.
A conjuntivite viral é tratada com medidas paliativas, como compressas frias nas pálpebras, limpeza dos olhos para remover o excesso de secreção e colírios lubrificantes.
Por fim, a conjuntivite alérgica pode demandar uso de medicamentos para combater a alergia. Em geral, há períodos de melhora e de piora, principalmente nas crianças com rinite alérgica e asma, por exemplo.
3- O sol prejudica a saúde ocular das crianças
Pode até parecer contraditório, mas a luz solar é essencial para a visão na infância. Obviamente é preciso proteger os olhos dos pequenos com chapéus, bonés e se possível óculos de sol. Mas as atividades ao ar livre são essenciais para prevenir o desenvolvimento e a progressão da miopia na infância.
Alguns estudos apontaram que a exposição aos raios solares estimula a produção da dopamina, um neurotransmissor que previne que o olho cresça alongado, o que leva à distorção do foco de luz que entra no globo ocular, causando a miopia. Além disso, lugares abertos ajudam a treinar a visão de longe.
Outra descoberta importante ligada às atividades ao ar livre é que a dopamina é normalmente produzida durante o dia, e é responsável por dar o comando para olho mudar da visão diurna para a visão noturna. Dessa maneira, a pouca exposição à luz solar interrompe esse ciclo, causando modificações no crescimento do olho, outro fator de risco para desenvolver a miopia.
4- A luz azul emitida pelos eletrônicos faz mal para os olhos das crianças
O malefício da luz azul para os olhos foi um tema bastante divulgado nos últimos anos. Contudo, não há evidências científicas de que a luz azul possa prejudicar a visão.
A luz azul dos eletrônicos pode prejudicar a produção da melatonina no período noturno. Mas não causa perda da acuidade visual. Na verdade, a luz azul emitida pelo sol é muito maior do aquela emitida pelos eletrônicos.
O que realmente pode prejudicar a visão das crianças é o uso excessivo e prolongados dos dispositivos eletrônicos. Há evidências bem estabelecidas que o aumento dos casos de miopia na infância está ligado ao uso de tabletes, celulares e computadores.
Além do risco de desenvolvimento e progressão da miopia, ficar horas em frente às telas pode prejudicar a superfície ocular, causando cansaço visual, secura, irritação e vermelhidão ocular.
A dica aqui é evitar o uso dos dispositivos eletrônicos após as 18h para não atrapalhar o sono das crianças. Para além disso, crianças menores de 2 anos não devem ser expostas às telas. Para as crianças maiores de 2 anos, o ideal é controlar o tempo que não deve ultrapassar uma hora por dia.
5- Erros refrativos só podem ser diagnosticados quando a criança já sabe ler
Muitas pessoas acreditam que somente crianças que sabem ler podem passar pelo exame de refração, que detecta a presença de erros refrativos como miopia, astigmatismo e hipermetropia.
Porém, é perfeitamente possível descobrir um erro refrativo em bebês e crianças não alfabetizadas por meio de um exame chamado esquiascopia.
O aparelho usado para detectar erros refrativos em crianças que não sabem ler e em bebês se chama esquiascópio. O dispositivo lembra uma régua, com diversas lentes. Esse exame pode ser feito com ou sem dilatação das pupilas. Entretanto, a dilatação é importante para determinar os erros refrativos com mais precisão.
6- Desvio do olho é normal em bebês
Até os 3 meses, os bebês podem apresentar algum grau de imaturidade visual e apresentar algum desequilíbrio variável no alinhamento dos olhos. Mas, desvios bem estabelecidos e fixos desde o nascimento não mudam e indicam o estrabismo. Portanto, o ideal é levar o bebê em um oftalmopediatra para uma avaliação mais apurada.
Como você viu, há muitos mitos que envolvem a saúde ocular na infância. É muito importante entender que o sistema visual é o único que se desenvolve fora do útero. Ou seja, a visão não nasce pronta como os outros sentidos. O desenvolvimento visual ocorre ao longo da infância até por volta dos 7 anos de idade.
Portanto, doenças e condições que afetam os olhos na infância podem evoluir para perdas visuais e outros problemas.
A melhor maneira de prevenir que isso aconteça é levar o bebê em seu primeiro ano de vida para uma consulta de rotina com um oftalmopediatra. Ao longo da vida, essas consultas podem ser feitas anualmente em crianças sem problemas oftalmológicos.
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