A síndrome de Duane é uma forma rara de estrabismo, que representa de 1 a 4% dos casos totais de estrabismo. Contudo, é uma condição que afeta bastante a qualidade de vida da criança.
Para falar mais sobre a síndrome de Duane, hoje vamos entrevistar a oftalmologista infantil, Dra. Marcela Barreira, especialista em Estrabismo e Chefe do Serviço de Neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS).
Síndrome de Duane está presente desde o nascimento
O estrabismo é uma condição oftalmológica que leva ao desvio do eixo ocular. Normalmente, se desenvolve na infância. Entretanto, há formas que são congênitas, ou seja, a criança já nasce com o estrabismo. Sendo assim, a síndrome de Duane é uma forma congênita, porém rara de estrabismo.
Geralmente, a condição afeta mais meninas do que meninos: 6 em cada 10 crianças afetadas são do sexo feminino, quando o desvio afeta apenas um dos olhos (estrabismo unilateral). Adicionalmente, os casos bilaterais representam 15% a 20% de todos os casos da síndrome de Duane.
Causa está associada à má formação embrionária
De acordo com Dra. Marcela, a síndrome de Duane é resultado de problemas com o embrião, entre a quarta e a oitava semana de gestação. “Normalmente, ocorre uma má formação do VII nervo craniano, que acarreta uma desenervação do músculo reto lateral do olho. Dessa maneira, os músculos oculares não recebem os sinais elétricos necessários para os movimentos dos olhos”.
Primeiramente, para compreender melhor a síndrome de Duane, é importante lembrar que os movimentos do corpo humano são controlados pelos nervos. Os olhos, por exemplo, são controlados pelos músculos extraoculares, que permitem os movimentos dos olhos em todas as direções. De uma maneira mais didática, podemos comparar esses músculos com as “rédeas de um cavalo”.
“Ao todo, são seis músculos extraoculares que precisam trabalhar juntos para mover os olhos em todas as direções. Esses movimentos dependem dos nervos cranianos. Portanto, quando o nervo não envia o sinal do cérebro para o músculo, é como se não houvesse um fio entre o interruptor e a lâmpada. Para além disso, o nervo que controla o músculo oposto ao reto lateral, o reto medial, envia uma ramo extra para ativá-lo. Com isso, surge uma espécie de “confusão”, explica Dra. Marcela.
“Dessa forma, o músculo reto lateral tenta puxar o olho para fora, enquanto o cérebro passa a mensagem ao músculo reto medial para puxar o olho para dentro. Nesse processo, o olho se retrai para dentro da órbita ocular e o músculo reto medial puxa o olho para dentro. Por isso que a SD também é chamada de síndrome de retração de Duane”, complementa a especialista.
Sinais podem passar despercebidos nos primeiros anos de vida
Embora a SD esteja presente desde o nascimento, pode não ser tão aparente nos primeiros anos de vida. Por esse motivo, a condição passa despercebida pelos pais e, até mesmo, pelo pediatra.
“Normalmente, o sinal mais característico é o torcicolo ocular. Para enxergar, a criança adota posições anormais da cabeça, o que ajuda a compensar o desvio. Adicionalmente, podem surgir dificuldades na visão. Desse modo, o diagnóstico costuma acontecer por volta dos 10 anos de idade ou um pouco antes”, aponta Dra. Marcela.
Características da síndrome de Duane
A síndrome de Duane, em 80% dos casos, afeta apenas um olho, normalmente o esquerdo. Mas pode afetar os dois olhos. Confira abaixo as principais manifestações da condição:
- Limitação parcial ou completa do movimento do olho para fora (em direção às orelhas);
- Limitação parcial do movimento do olho para dentro (em direção ao nariz);
- Estreitamento da abertura da pálpebra e retração do globo ocular para dentro da órbita, quando o olho se movimenta para dentro;
- Aumento da abertura da pálpebra na tentativa de olhar para fora;
- Movimentos oculares involuntários para cima ou para baixo, quando o olho se movimenta para dentro;
- Fechar um dos olhos para conseguir enxergar;
- Visão dupla;
- Dores de cabeça e no pescoço.
Síndrome de Duane tem formas variadas – Conheça quais são
Existem três formas de apresentação da SD.
- A síndrome de Duane Tipo I é mais comum e responde a 80% dos casos. O paciente apresenta dificuldade em mover o olho para fora. O desvio é convergente (para dentro);
- No tipo II, o paciente tem pouca ou nenhuma capacidade de mover o olho para dentro. Nestes casos, o desvio é divergente (para fora, em direção às orelhas);
- Na SD Tipo III, há pouca ou nenhuma capacidade para movimentar o olho para dentro e para fora. Sendo assim, esses pacientes podem apresentar tanto o desvio convergente como o divergente.
Diagnóstico e Tratamento – O que você precisa saber
Como se trata de uma doença pouco conhecida e bastante específica, o ideal é procurar um oftalmologista especialista em estrabismo. De uma forma geral, o diagnóstico é clínico, por meio de exames que analisam os movimentos oculares. Em alguns casos, o especialista pode solicitar exames adicionais.
Embora não haja uma cura para a síndrome de Duane, hoje existem algumas técnicas cirúrgicas que podem ajudar o paciente.
Como funciona a cirurgia
“A cirurgia visa à redução do ângulo do estrabismo e, com isso, é possível melhorar ou eliminar o torcicolo. Adicionalmente, também é possível reduzir o estrabismo quando o paciente olha para frente. Ainda podemos melhorar a retração do olho e o estreitamento da abertura palpebral. Por fim, o procedimento cirúrgico pode servir para eliminar o desvio vertical que ocorre quando o paciente movimenta os olhos”, ressalta Dra. Marcela.
Entretanto, é importante esclarecer que nem todos os pacientes precisam da cirurgia. Em muitos casos, o paciente consegue compensar o estrabismo com posições de bloqueio mais tênues. Por outro lado, é preciso reforçar que crianças com a síndrome de Duane devem realizar acompanhamento oftalmológico regular.
“Finalmente, é importante lembrar que a síndrome de Duane pode resultar em outros problemas na visão, sendo a principal preocupação a ambliopia, mais conhecida como olho preguiçoso. Portanto o acompanhamento oftalmológico é imprescindível durante a infância. Quanto antes for feito o diagnóstico, melhores serão os resultados do tratamento”, conclui Dra. Marcela.
Leia mais sobre a Ambliopia aqui.
Dra. Marcela Barreira é oftalmopediatra, especialista em estrabismo e neuroftalmologista.
O consultório fica em São Paulo, capital.
Para mais informações, ligue para (11) 3846 02 00
Matéria produzida pela jornalista Leda Maria Sangiorgio – MTB 30.714
É expressamente proibida a cópia parcial ou total do material, sob pena da Lei de Direitos Autorais, número 10.695.
Adicionar Comentário