Não existe o momento certo. Porém, podemos dizer que existe o momento ideal, que é até os 7 anos de idade. Isso porque nada impede que uma criança mais velha, um adolescente ou mesmo um adulto seja submetido a uma cirurgia de correção de estrabismo.
Contudo, quanto antes a cirurgia for realizada, maior a probabilidade de melhora e/ou desenvolvimento da visão binocular, ou seja, da visão de profundidade. Essa visão é uma das primeiras a se desenvolver. Quando indicamos cirurgias precoces, o intuito é tentar preservá-la ou recupera–lá, mesmo que parcialmente”, afirma Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo.
Alguns estrabismos, contudo, não têm indicação cirúrgica. Por isso, o primeiro passo é fazer o diagnóstico para diferenciar que tipo de estrabismo a criança apresenta. “As indicações cirúrgicas e o momento mais adequado para o procedimento variam bastante e são feitas de acordo o tipo de desvio detectado”, diz a médica.
Mas, o que é estrabismo?
O estrabismo ocorre quando há desalinhamento dos eixos visuais. Esta condição se desenvolve quando os músculos oculares não funcionam em sincronia. Isso impede que os olhos se movimentem de forma coordenada. Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP), o estrabismo atinge de 2% a 5% das crianças e afeta ambos os sexos.
A especialista explica que o estrabismo mais conhecido é o convergente. Popularmente chamado de vesguice, ocorre quando o desvio do olho é para dentro, em direção ao nariz. É o estrabismo mais prevalente na infância e pode estar presente desde o nascimento.
“Nos casos congênitos de estrabismo convergente, por exemplo, a cirurgia pode ser indicada antes mesmo da criança completar um ano de idade. Mas, em média, os bebês passam pelo procedimento cirúrgico de correção entre 10 e 18 meses”, explica Dra. Marcela.
Toda essa pressa em operar bebês não está relacionada a estética, mas sim à tentativa de tentar restabelecer, nem que seja um pouco, a visão binocular dessa criança e evitar o desenvolvimento da ambliopia, mais conhecida como “olho preguiçoso”.
“A visão binocular (estereopsia) ocorre quando o cérebro funde as duas imagens captadas pelos olhos em uma só. A visão binocular é fundamental para enxergar um campo visual maior e para dar a noção de profundidade, assim como para vermos imagens em 3D”, diz Dra. Marcela.
“Porém, em crianças com estrabismo não tratado ou ainda com um manejo não eficaz, o cérebro passa a ignorar a imagem do olho com o desvio. A expressão ‘olho preguiçoso’ retrata exatamente isso, ou seja, esse olho não é mais usado e tem seu desenvolvimento comprometido”, completa a médica.
O único caso de estrabismo convergente não cirúrgico é aquele causado por alto grau de hipermetropia. O uso de óculos já é suficiente para corrigir esse desvio.
Para fora
Outro tipo comum é o estrabismo divergente intermitente. É mais prevalente nas crianças maiores de um ano de idade. Menos prejudicial para a visão binocular, pode ser operado por volta dos três ou quatro anos. “Esse estrabismo é aquele em que a criança desvia o olho em direção às orelhas, mas de vez em quando. Por isso, prejudica menos o desenvolvimento visual”, cita Dra. Marcela.
Estrabismo e vida profissional
Há quem pense que a visão 3D só serve para vermos filmes no cinema. Mas, o fato é que inúmeras profissões, como piloto de avião, médico cirurgião ou outras profissões que utilizam microscópio para exercer suas atividades, por exemplo, exigem um sistema visual saudável e com visão binocular intacta.
“O diagnóstico precoce e o tratamento do estrabismo e da possível ambliopia gerada por ele devem ocorrer o mais cedo possível” Após a formação visual, ou seja, após o sistema visual estar maduro, que ocorre após os sete anos de idade, mesmo que consigamos alinhar os olhos através de cirurgia, as sequelas visuais deixada pelo desvio não conseguem ser revertidas”, encerra a médica.
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