A síndrome de Duane, também chamada de síndrome de retração de Duane, é uma forma rara de estrabismo. Estima-se que a SD represente de 1 a 4% de todos os casos de desalinhamento ocular. A condição é congênita em 90% dos casos, ou seja, está presente desde o nascimento. O fator hereditário representa apenas 10 de todos os casos da condição. A SD é mais prevalente em meninas – 6 em cada 10 crianças afetadas são do sexo feminino.
Embora a SD esteja presente desde o nascimento, pode não ser aparente nos primeiros anos de vida. Em geral, a condição é percebida quando a criança demonstra dificuldades na visão e passa a adotar posições anormais da cabeça (torcicolo) para compensar o desvio e conseguir enxergar. Por esse motivo, o diagnóstico costuma ser mais tardio, por volta dos 10 anos de idade.
Duane está associada à má formação dos nervos cranianos
Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra, especialista em estrabismo e Chefe do Setor de Neuroftalmologia do BOS (Banco de Olhos de Sorocaba), a síndrome de Duane está associada a problemas no VII nervo craniano, responsável pelos movimentos do músculo reto lateral.
“As evidências sugerem que a condição é resultado de problemas com o embrião, entre a quarta e a oitava semana de gestação. Esses problemas envolvem a má formação do VII nervo craniano, que acarreta uma desenervação. Com isso, os músculos oculares não recebem os sinais elétricos para se movimentarem”, explica Dra. Marcela.
Síndrome de Duane – Nervos Cranianos e Movimentos Oculares
Os movimentos do corpo humano, incluindo os dos olhos, são controlados pelos músculos e pelos nervos.
“Os nervos enviam sinais elétricos para os músculos e, assim, eles realizam os movimentos. Nos olhos, temos os músculos extrínsecos, também chamados de músculos extraoculares. São eles que permitem que os olhos se movimentem em todas as direções, como se fossem as “rédeas de um cavalo”, numa linguagem mais leiga”, conta a especialista.
“Ao todo, são seis músculos extraoculares que precisam trabalhar juntos para mover os olhos em todas as direções. Esses movimentos dependem dos nervos cranianos. Portanto, quando o nervo não envia o sinal do cérebro para o músculo, é como se não houvesse um fio entre o interruptor e a lâmpada”, adiciona Dra. Marcela.
Para além disso, o nervo que controla o músculo oposto ao reto lateral, o reto medial, envia uma ramo extra para ativá-lo. Mas, isso gera uma espécie de “confusão”. O músculo reto lateral tenta puxar o olho para fora, enquanto o cérebro passa a mensagem ao músculo reto medial para puxar o olho para dentro. Nesse processo, o olho se retrai para dentro da órbita ocular e o músculo reto medial puxa o olho para dentro, por isso a SD é chamada de síndrome de retração de Duane.
Características da síndrome de Duane
A síndrome de Duane, em 80% dos casos, afeta apenas um olho, normalmente o esquerdo. Mas pode afetar os dois olhos. Confira abaixo as principais manifestações da condição:
- Limitação parcial o completa do movimento do olho para fora (em direção às orelhas)
- Limitação parcial do movimento do olho para dentro (em direção ao nariz)
- Estreitamento da abertura da pálpebra e retração do globo ocular para dentro da órbita, quando o olho se movimenta para dentro
- Aumento da abertura da pálpebra na tentativa de olhar para fora
- Movimentos oculares involuntários para cima ou para baixo, quando o olho se movimenta para dentro
Sinais e sintomas
Além das características descritas acima, a marca registrada da síndrome da Duane é a adoção de posturas anormais na cabeça (torcicolo ocular), para compensar a dificuldade em enxergar. Outra característica é quando a criança fecha um dos olhos para enxergar melhor. As crianças mais velhas podem apresentar queixas de visão dupla, dores de cabeça e no pescoço.
Tipos da Síndrome de Duane
Existem três formas de apresentação da SD.
A síndrome de Duane Tipo I é mais comum e responde a 80% dos casos. O paciente apresenta dificuldade em mover o olho para fora. O desvio é convergente (para dentro).
No tipo II, o paciente tem pouca ou nenhuma capacidade de mover o olho para dentro. Nestes casos, o desvio é divergente.
Por fim, na SD Tipo III, há pouca ou nenhuma capacidade para movimentar o olho para dentro e para fora. Pacientes podem apresentar tanto desvio convergente como divergente.
Diagnóstico e Tratamento da Síndrome de Duane
O diagnóstico da síndrome de Duane é feito por um oftalmopediatra, preferencialmente especialista em estrabismo. Normalmente, não são necessários exames complexos ou adicionais para confirmar a presença da condição. Infelizmente, não há cura, já que não é possível reparar ou substituir o VI nervo craniano.
“O tratamento depende de alguns fatores. Nos casos em que o desalinhamento afeta a qualidade de vida e a visão, é possível reduzir realizar uma cirurgia para reduzir o ângulo do estrabismo, para melhorar ou eliminar o torcicolo. A cirurgia também pode diminuir o estrabismo quando o paciente olha para frente, bem como para melhorar a retração do olho e o estreitamento da abertura palpebral. Por fim, também é possível eliminar o desvio vertical quando o paciente movimenta os olhos”, conta Dra. Marcela.
Apesar das opções cirúrgicas, é importante dizer que muitos pacientes conseguem compensar o desalinhamento dos olhos com as posições de bloqueio leves. Em geral, nesses casos, não há uma necessidade ou indicação para cirurgia. Por outro lado, são pacientes que precisam de acompanhamento oftalmológico regular.
“A síndrome de Duane pode causar outros problemas na visão, sendo a principal preocupação a ambliopia, mais conhecida como olho preguiçoso. Portanto o acompanhamento oftalmológico é imprescindível durante a infância. Quanto antes for feito o diagnóstico, melhores serão os resultados do tratamento”, finaliza Dra. Marcela.
Dra. Marcela Barreira é neuroftalmologista, é oftalmopediatra e especialista em estrabismo.
O consultório fica em São Paulo, na região dos Jardins.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
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