A retinopatia da prematuridade (ROP) se caracteriza pelo crescimento de neovasos na retina de bebês prematuros. Sendo assim, esses novos vasos podem se romper e causar hemorragias e o descolamento da retina, sendo que ambas as condições podem levar à cegueira.
Para falar um pouco mais sobre a retinopatia da prematuridade, hoje vamos entrevistar a oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, especialista em estrabismo e Chefe do Serviço de Neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS).
Retinopatia da Prematuridade – o que você precisa saber
Primeiramente, é crucial esclarecer que é possível prevenir e tratar a retinopatia da prematuridade. Por outro lado, a doença é uma das principais causas de cegueira na infância. Dessa forma, podemos concluir que a melhor forma de prevenção da ROP é garantir os cuidados durante a gestação para evitar os partos prematuros.
“Como o próprio nome diz, a retinopatia da prematuridade afeta os bebês que nascem antes do tempo, ou seja, antes de completar 37 semanas de gestação. Para além da idade gestacional, o baixo peso ao nascer também é um importante fator de risco. Isso porque, quanto menor o peso, maior a chance de o prematuro desenvolver a ROP”, explica Dra. Marcela.
Adicionalmente, há outros aspectos que elevam o risco da retinopatia da prematuridade, como a hiper ou hipóxia (excesso ou falta de oxigenação), uso prolongado de oxigênio e flutuações nos níveis de oxigênio, sepse (infecção generalizada), candidemia (infecção na corrente sanguínea por leveduras) e exsanguineotransfusão, procedimento em que o sangue do bebê é removido e trocado por outro”, comenta a especialista.
Causas ligadas à imaturidade orgânica
Os bebês prematuros estão sujeitos a diversas complicações devido à imaturidade de todos os órgãos e sistemas. Dessa forma, essa imaturidade orgânica também afeta o sistema visual, o último sistema do corpo humano a se desenvolver.
“A retina, popularmente conhecida como fundo do olho, é uma estrutura essencial para a visão. Os vasos sanguíneos da retina começam a se desenvolver entre a 18ª a 20ª semanas de gestação e continuam a crescer ao longo da gestação. Entretanto, quando o bebê nasce antes do tempo, ocorre uma interrupção no crescimento desses vasos. Quando esse processo se reinicia, os vasos se desenvolvem de forma anormal, com risco de rompimento e sangramento”, explica Dra. Marcela.
Identificação precoce e acompanhamento da retinopatia da prematuridade
Todos os bebês prematuros precisam de acompanhamento oftalmológico desde o nascimento. Desse modo, é crucial a presença de um oftalmologista infantil nas unidades neonatais. “Isso porque existe um período, uma janela de oportunidade, para tratar a retinopatia da prematuridade. A avaliação oftalmológica do bebê prematuro deve ocorrer entre a 31ª e 33ª semana de idade gestacional ou entre a 4ª e 6ª semana de vida”, ressalta a especialista.
Acima de tudo, é importante reforçar que o diagnóstico precoce pode impedir a evolução da retinopatia. Nos casos mais leves, o acompanhamento oftalmológico deve ser contínuo e visa determinar a necessidade de intervenções
“Entretanto, quando a ROP está em um estágio mais avançado ou temos um risco de descolamento da retina, precisamos pensar em tratamentos. Atualmente, temos algumas opções como fotocoagulação a laser e injeções com substâncias antiangiogênicas, que são medicamentos que inibem o crescimento de novos vasos sanguíneos. Há também o tratamento com crioterapia”, conta Dra. Marcela.
Retinopatia da prematuridade aumenta risco de outras doenças oftalmológicas
Para além dos problemas na retina, a ROP aumenta o risco do bebê prematuro de desenvolver outras doenças, como nistagmo, estrabismo e erros refrativos. “Por esses motivos, o acompanhamento com um oftalmopediatra, durante a infância, é de extrema importância para crianças que nascem antes do tempo”, alerta Dra. Marcela.
Segundo a literatura, a incidência de estrabismo em crianças prematuras que tiveram ROP é maior quando comparada às crianças que nasceram a termo. Estima-se que de 22 a 47% das crianças que tiveram ROP terão estrabismo e cerca de metade irá apresentar algum grau de ambliopia (olho preguiçoso).
Conclusão
Hoje, graças ao avanço da medicina neonatal, os bebês que nascem prematuros têm uma chance muito maior de se desenvolver e de ter uma vida normal. Por outro lado, é crucial que essas crianças recebam acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, incluindo de um oftalmologista infantil.
“Vale lembrar que a visão se desenvolve ao longo da infância e só se completa por volta dos 7 anos de idade. Dessa maneira, é preciso garantir que esse desenvolvimento ocorra de forma saudável. Por fim, a detecção precoce de doenças ou condições oculares nos permite intervir em uma fase em que é possível minimizar os danos e obter melhores resultados com os tratamentos”, finaliza Dra. Marcela.
Dra. Marcela Barreira é oftalmopediatra, especialista em estrabismo e neuroftalmologista.
O consultório fica em São Paulo, capital.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
Matéria produzida pela jornalista Leda Maria Sangiorgio – MTB 30.714
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