O estrabismo convergente é, de longe, o desvio ocular mais conhecido do público em geral. Popularmente chamado de “vesguice”, o estrabismo convergente é aquele em que o olho se desvia para dentro, em direção ao nariz. Este é tipo de estrabismo mais prevalente na infância.
Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra especialista em estrabismo, o estrabismo convergente pode ser congênito, surgir ao longo da infância ou ainda estar associado à hipermetropia.
“A forma congênita é aquela em que o desvio está presente desde o nascimento ou aparece antes dos 6 meses de vida. Independente da fase em que surge, o estrabismo convergente congênito é o mais preocupante, pois afeta a visão binocular de maneira mais intensa. Após os 6 meses, o estrabismo convergente não é mais considerado congênito”.
Estrabismo convergente e hipermetropia
“Já o estrabismo convergente relacionado à hipermetropia é chamado de estrabismo acomodativo e costuma aparecer após o primeiro ano de vida. Esta forma de estrabismo fica mais evidente quando a criança precisa enxergar de perto. Na tentativa de focar a imagem, o olho fica desalinhado”, comenta a especialista.
“Vale esclarecer que até por volta dos 4 meses, os bebês podem apresentar desvios oculares esporádicos. Isso ocorre devido à imaturidade do sistema visual. Quando o bebê tenta focar algum objeto ou imagem, o olho pode se desviar. Mas, o desvio é bem específico nessas situações e desaparece entre o terceiro e quarto mês de vida”, explica Dra. Marcela.
Por fim, o estrabismo convergente também pode aparecer em adolescentes e em adultos. Na população adulta, normalmente o desvio está associado a problemas neurológicos, como tumores, traumas oculares e doenças cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral.
Causas e fatores de risco do estrabismo convergente
As causas exatas do estrabismo ainda não são um consenso. Contudo, nos últimos anos vários estudos apontaram que o estrabismo tem um componente genético. As pesquisas mostraram uma relação importante entre a expressão de genes responsáveis pelos músculos oculares e possíveis mutações nesses genes, que podem levar ao desvio ocular.
Outra descoberta é a presença de mutações relacionadas ao estrabismo em pessoas de uma mesma família. Portanto, histórico familiar de estrabismo é um fator que aumenta o risco de desenvolver um desvio ocular ao longo da infância.
Outros fatores de risco do desvio ocular convergente
- Parto prematuro
- Complicações após o parto
- Tabagismo materno durante a gravidez
- Baixo peso ao nascer
- Síndromes genéticas (trissomia do cromossomo 21)
- Doenças neurológicas
- Paralisia cerebral
- Problemas oculares congênitos, como glaucoma, retinopatias e catarata
Estrabismo convergente pode causar danos na visão
O estrabismo convergente que surge na infância, quando não tratado, pode causar danos permanentes na visão binocular. Por isso, é importante elucidar que o estrabismo não é uma questão estética e seu tratamento é crucial para o desenvolvimento visual e global da criança.
“O estrabismo, sem tratamento, pode levar ao desenvolvimento da ambliopia, mais conhecida como “olho preguiçoso”. Isso ocorre quando o cérebro passa a ignorar a imagem captada pelo olho com o desvio e prioriza a imagem captada pelo olho saudável. Essa supressão, por tempo prolongado, dentro da fase considerada crítica para o desenvolvimento visual, que é dos 2 até por volta dos 4 anos de idade, pode levar à perda ou a danos irreversíveis na visão binocular”, aponta Dra. Marcela.
A visão binocular é formada pela fusão das imagens captadas pelos dois olhos em uma única imagem. É a visão binocular que nos permite enxergar em profundidade e imagens em 3D. Para enxergar por meio de um microscópio, por exemplo, precisamos da visão binocular, bem como para desempenhar certas profissões, como piloto de avião, médico cirurgião, entre outras carreiras.
Infelizmente, no estrabismo convergente congênito, dificilmente é possível recuperar a visão binocular, mesmo com a correção cirúrgica.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do estrabismo convergente congênito costuma ser mais precoce, principalmente quando os pais levam o bebê em seus primeiros meses para uma consulta oftalmológica. O desvio é constante e bastante evidente, o que ajuda os pais a desconfiarem de que há algo diferente na visão da criança.
O tratamento para o estrabismo convergente congênito e para àquele que aparece de forma mais tardia, é a cirurgia para corrigir o desalinhamento do eixo visual. Quando o desvio é em bebês com menos de 6 meses, a cirurgia pode ser indicada antes mesmo da criança completar um ano de idade. A precocidade do tratamento cirúrgico é importante, pois é uma tentativa de preservar, mesmo que um pouco, a visão binocular”, ressalta Dra. Marcela.
Mas, em média, os bebês com estrabismo congênito, passam pelo procedimento cirúrgico de correção entre 10 e 18 meses. Já o estrabismo convergente acomodativo é único desvio que desaparece com o uso de óculos para correção da hipermetropia. Portanto, não há indicação de cirurgia nesses casos.
Tampão não trata estrabismo convergente
Outro mito em relação ao estrabismo convergente é o uso do tampão. “É crucial esclarecer que o tampão, cujo termo médico é terapia de oclusão ocular, não é um tratamento para o estrabismo. Na verdade, o tampão trata a ambliopia. Ele é colocado no olho saudável para forçar o cérebro a usar a imagem que o olho com o desvio capta”, aponta a oftalmopediatra.
“Por outro lado, muitas crianças com estrabismo convergente podem necessitar do tampão, mesmo após a cirurgia, para prevenir ou tratar o olho preguiçoso”, finaliza Dra. Marcela.
Conclusão
O estrabismo convergente surge na infância e pode estar presente desde o nascimento. É o tipo mais preocupante de desvio ocular, sendo fundamental procurar o oftalmopediatra nos primeiros meses de vida do bebê. O tratamento do desalinhamento do eixo visual é a cirurgia de estrabismo. Quanto mais precoce o tratamento, melhores serão os resultados. O estrabismo convergente acomodativo não tem indicação cirúrgica, já que o uso de óculos para corrigir a hipermetropia é suficiente para alinhar o eixo ocular.
Quer saber como funciona a cirurgia para o estrabismo convergente? Leia mais no nosso blog
https://marcelabarreira.com.br/cirurgia-de-estrabismo/
Dra. Marcela Barreira é neuroftalmologista, é oftalmopediatra e especialista em estrabismo.
O consultório fica em São Paulo, na região dos Jardins.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
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