O ceratocone é uma doença oftalmológica que afeta córnea, tecido transparente que pode ser comparado a um vidro de um relógio. Ela permite a entrada da luz e executa dois terços das tarefas de foco, seguida da íris (aquela área colorida do olho) e a pupila. Portanto, o ceratocone pode causar danos importantes na capacidade de enxergar.
Para se ter uma ideia, o ceratocone aumenta em 7 vezes a chance de precisar de um transplante de córnea. Devido à gravidade da doença, temos o movimento “Junho Violeta”, dedicado a aumentar o conhecimento da população sobre o ceratocone.
Ceratocone atinge adultos e crianças
Embora o ceratocone seja mais prevalente em adultos, a forma infantil é mais grave. Estima-se que a doença seja responsável por cerca de 20% dos transplantes de córnea em crianças. Para além disto, é mais comum em meninos que meninas.
Segundo a oftalmopediatra Dra. Marcela Barreira, também especialista em estrabismo e neuroftalmologia, o ceratocone causa mudanças na estrutura da córnea, que assume um formato de cone, sendo esta a explicação para o nome da doença. “O ceratocone causa alterações no colágeno que, por sua vez, causa uma deformação da córnea”.
“Uma das consequências destas deformidades é o desenvolvimento do astigmatismo irregular, miopia progressiva e afinamento da córnea. O ceratocone acarreta uma piora considerável na acuidade visual”, completa Dra. Marcela.
Normalmente, o ceratocone é mais comum na puberdade. Quando surge em crianças menores, é uma grande preocupação. Isto porque nessa população a progressão é mais rápida.
Coçar os olhos é o principal fator de risco
Um dos fatores de risco mais conhecidos do ceratocone é a fricção constante dos olhos. Ou seja, coçar demais os olhos pode levar ao desenvolvimento da doença. Por este motivo, o ceratocone está intimamente relacionado às alergias em geral, especialmente àquelas que atingem os olhos.
“Uma das hipóteses é que o hábito de coçar os olhos de forma constante libera substâncias inflamatórias, que desencadeiam alterações no colágeno da córnea, levando a sua deformação”, explica Dra. Marcela.
“Temos outros fatores de risco, como quadros repetitivos de ceratoconjuntivite (inflamação da conjuntiva e da córnea), síndrome de Down, retinite pigmentosa, entre outras doenças genéticas. Além disso, crianças com histórico familiar de ceratocone têm um risco muito maior de ter a doença do que a população em geral”, comenta Dra. Marcela.
Ceratocone não causa sintomas nas fases iniciais
Um dos principais problemas do ceratocone é que nas fases iniciais da doença não há sintomas específicos. Por essa razão, a maioria dos casos da doença em crianças não é detectada de forma precoce. “Um dos sinais mais típicos do ceratocone é a necessidade de trocar de grau de forma constante. Outro indício é a intolerância ao uso de lentes de contato”, alerta Dra. Marcela.
Na medida em que o ceratocone avança, surgem sintomas como redução da acuidade visual, sensibilidade à luz, cansaço visual, aumento da coceira, irritação e desconforto nos olhos. Por fim, alguns pacientes podem ter visão dupla, percepção de várias imagens de um mesmo objeto, além de feixes de luz e distorção dos reflexos em volta da luz.
Diagnóstico e tratamento do ceratocone
As crianças com histórico familiar de ceratocone e condições que aumentam o risco de desenvolver a doença, como alergias e a síndrome de Down, por exemplo, devem ser acompanhadas desde o nascimento por um oftalmologista infantil.
O ceratocone, inicialmente, pode ser gerenciado com o uso de óculos. Estima-se que a progressão da doença ocorra em cerca de 6 anos. Quando a deformação da córnea é muito importante, torna-se necessário realizar um transplante de córnea.
Contudo, antes do transplante, é possível tratar a doença com algumas técnicas que podem impedir a evolução da doença, bem como estabilizar a curvatura da córnea. Um dos tratamentos mais usados é o cross-linking.
“Trata-se de um procedimento seguro em que o oftalmologista aplica gotas de riboflavina, um dos tipos de vitamina B. Após a instilação, o médico aplica um feixe de luz ultravioleta. A luz UV promove a ligação da vitamina com o colágeno da córnea, fortalecendo-a. Com isso, consegue-se fixar a córnea no formato em que ela se encontra naquele momento”, conta Dra. Marcela.
Pare de coçar os olhos
A consulta regular com o oftalmologista é importante para detectar e tratar o ceratocone de forma precoce. Contudo, os pais precisam ficar atentos ao hábito de coçar os olhos. Caso a criança tenha alergias oculares constantes, é preciso tratar de forma efetiva.
“Para além disto, queixas de dificuldade para enxergar, mesmo após mudanças recentes de grau, também são sinais de alerta. Por fim, é preciso dar mais atenção para crianças com histórico familiar de ceratocone, bem como àquelas com síndromes genéticas associadas à condição”, finaliza a oftalmopediatra.
Dra. Marcela Barreira é neuroftalmologista, é oftalmopediatra e especialista em estrabismo.
O consultório fica em São Paulo, na região dos Jardins.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
Adicionar Comentário