Uso de telas por tempo prolongado é principal fator de risco
Embora o olho seco seja uma doença mais prevalente em adultos, especialmente após os 40 anos, também pode afetar o público infantil. Ou seja, crianças podem desenvolver a síndrome do olho seco, apesar de ser mais raro. E um dos principais fatores de risco é o uso prolongado de telas.
Hoje, vamos falar um pouco mais sobre o porquê crianças podem desenvolver o olho seco. A razão é que o mês de julho foi eleito para aumentar o conhecimento sobre a síndrome do olho seco, também chamada de ceratoconjuntivite seca, por meio do movimento Julho Turquesa.
Síndrome do olho seco – O que você precisa saber
Segundo Dra. Marcela Barreira, oftalmopediatra e especialista em estrabismo, o olho seco é uma doença que afeta a superfície ocular. Esta região é composta pela córnea, esclera, episclera e conjuntiva. A saúde desta área ocular depende do bom funcionamento de algumas glândulas, como as sebáceas e as lacrimais. Estas glândulas produzem substâncias que compõem o filme lacrimal, popularmente chamado de lágrima”.
“A lágrima tem três camadas: a aquosa, a gordurosa e a mucosa. Toda vez que piscamos, o filme lacrimal se espalha na superfície ocular, lubrificando, nutrindo e protegendo a região. Entretanto, existem algumas condições que podem alterar o funcionamento das glândulas lacrimais e sebáceas dos olhos. Quando o problema é nas glândulas sebáceas, ocorre o olho seco evaporativo. Já as alterações nas glândulas lacrimais acarretam o olho seco por deficiência aquosa”, explica Dra. Marcela.
Tipicamente, o olho seco é uma doença de adultos relacionada à inúmeros fatores de risco. Contudo, nos últimos anos, os estudos apontam que a baixa prevalência do olho seco na infância pode estar associada ao subdiagnóstico.
“Mas, assim como acontece com os adultos, o olho seco na infância pode ser bastante desconfortável e afetar a visão, com impactos na aprendizagem, nos esportes e em outras áreas da vida. Por esses motivos, é importante entender que crianças podem desenvolver o olho seco”, alerta Dra. Marcela.
Crianças podem desenvolver olho seco devido ao uso prolongado de telas
Atualmente, um dos principais fatores de risco do olho seco na infância é o tempo prolongado de telas. Um estudo de 2021, publicado no periódico Clinical Epidemiology and Global Health, apontou que existe uma associação importante entre o uso prolongado de smartphones e o risco aumentado de desenvolver doenças da superfície ocular. Para além disso, o estudo também indicou que quanto mais tempo a criança usa o smartphone, menor é a taxa de intermitência (tempo entre uma piscada e outra).
Entre outros fatores de risco de olho seco na infância estão:
- Alergias oculares
- Doenças autoimunes como síndrome de Sjogren e artrite reumatoide
- Conjuntivite e ceratoconjuntivite
- Inflamação e danos na superfície ocular
- Anormalidades neurossensoriais
- Blefarite e disfunção das glândulas sebáceas das pálpebras
- Uso de lentes de contato
- Rosácea
- Deficiência de vitamina A
- Má nutrição em geral
- Uso de medicamentos tópicos e sistêmicos para acne, anti-histamínicos e colírios com cloreto de benzalcônio na fórmula
Muito além da secura ocular
Vale esclarecer que a secura ocular é apenas um dos sintomas do olho seco. Aliás, isoladamente, o ressecamento dos olhos não é suficiente para determinar o diagnóstico. “A secura pode vir acompanhada de irritação, coceira, vermelhidão na conjuntiva, sensação de areia nos olhos, lacrimejamento, visão embaçada, sensibilidade à luz, desconforto ao usar lentes de contato e acúmulo de remelas nos cantos dos olhos, próximos ao nariz”, aponta Dra. Marcela.
A principal recomendação é que na presença dos sintomas, de forma persistente, os pais procurem um oftalmopediatra para uma avaliação. O tratamento depende da origem do olho seco e pode envolver uso de medicamentos, colírios, compressas mornas e mudança de hábitos.
Crianças e síndrome do olho seco – O que os pais precisam fazer
“As crianças com síndrome do olho seco precisam mudar certos hábitos. O primeiro é reduzir, ao máximo, o uso das telas. O problema dos dispositivos eletrônicos é a redução do número de piscadas. A tendência quando usamos um celular, por exemplo, é de piscar menos vezes e isto pode afetar a superfície ocular, bem como agravar os sintomas”, diz Dra. Marcela.
Aqui vai uma dica: como pode ser quase impossível inibir o uso das telas, o ideal é fazer pausas a cada 20 minutos de uso. Os pais também podem orientar a criança a piscar mais vezes enquanto estiverem em frente as telas.
Outro cuidado importante é manter os ambientes da casa com boa umidade no ar. Em períodos mais secos do ano, quando chove menos, por exemplo, a recomendação é usar umidificadores de ar. O ar também fica mais seco quando o ambiente é climatizado com ar-condicionado. Portanto, a regra da umidificação também serve nestes casos.
Nos casos de olho seco evaporativo, o uso de compressas mornas para amolecer as secreções acumuladas nos ductos das glândulas sebáceas pode ajudar a melhorar a qualidade do filme lacrimal. Também é preciso garantir que a criança tenha um bom aporte de nutrientes, especialmente de vitamina A.
Conclusão
O olho seco em crianças é menos frequente do que em adultos. Todavia, o uso excessivo e prolongado de telas está associado a um risco maior de desenvolver a síndrome do olho seco na infância. Sendo assim, cabe aos pais controlarem o tempo de uso dos dispositivos eletrônicos, garantir uma boa nutrição, orientar sobre as pausas durante o uso das telas e levar as crianças ao oftalmopediatra na presença de sinais e sintomas da doença”, finaliza Dra. Marcela.
Dra. Marcela Barreira é neuroftalmologista, é oftalmopediatra e especialista em estrabismo.
O consultório fica em São Paulo, na região dos Jardins.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
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