A criança precisa de óculos? Sim, muitas crianças nascem ou desenvolvem erros refrativos, como a miopia, ao longo da infância.
Entretanto, você sabia que a criança não percebe se enxerga bem ou mal?
Isso porque o desenvolvimento visual ocorre fora do útero e se completa por volta dos sete anos de idade. Além disso, as crianças que ainda não falam não têm como expressar suas dificuldades visuais.
Contudo, bebês e crianças com problemas na visão, como a miopia, astigmatismo e hipermetropia, podem apresentar alguns comportamentos e sinais indicativos de que possuem condições oculares que precisam de atenção.
Mas, antes de falarmos mais sobre esses sinais, vamos entender melhor o desenvolvimento visual.
Como a visão se desenvolve
Apesar de os bebês nascerem com a estrutura biológica da visão completa, eles irão aprender a usar os olhos ao longo do tempo, em um processo chamado de maturação visual.
O primeiro ano de vida é um período de extrema importância para o desenvolvimento da visão, bem como para descobrir alterações que possam causar danos visuais.
Como tudo começa
Gestação
- Por volta do 22º dia da gravidez, surgem dois pequenos pontos que darão origem aos olhos do bebê
- Entre a 9ª a 13 ª semanas, formam-se as pálpebras, íris e retina
- A partir da 27ª semana, o bebê abre e fecha os olhos e começa a apresentar sensibilidade à luz, podendo reagir quando a mãe fica exposta ao sol, por exemplo, cobrindo os olhinhos.
Nascimento
Ao nascer, a visão do bebê é borrada e só alcança objetos ou pessoas que estejam distantes de 30 a 40 cm.
Ele apenas consegue visualizar a luz e perceber mudanças, como do claro para o escuro. O bebê recém-nascido não consegue usar os dois olhos ao mesmo tempo, por isso é comum que ele pareça estrábico (vesgo) nessa fase. Além disso, ele só consegue perceber as cores em preto e branco.
Você sabia?
O olho aumenta cerca de três vezes entre o nascimento e a maturidade, mas um terço do crescimento do diâmetro ocular acontece no primeiro ano de vida.
Primeiros meses
O bebê começa a aprender a focar com os dois olhos e passa a perceber a aproximação de pessoas ou de objetos. Outro marco importante é a capacidade de acompanhar o movimento de objetos com os olhos.
A partir do segundo mês, os objetos e pessoas começam a ser percebidos com mais detalhes, como formas e padrões. Nessa fase, o bebê também já percebe as cores principais, como vermelho, amarelo e azul.
Aos quatro meses, inicia-se o desenvolvimento da visão de profundidade (visão binocular), que é útil para ajudar o bebê a perceber se os objetos ou as pessoas estão perto ou longe e, mais tarde, para começar a engatinhar.
Aos cinco meses, o bebê já acompanha muito bem o movimento das coisas e consegue reconhecer as cores mais claras.
Dos oitos meses em diante, melhora a acuidade visual, o foco e a visão binocular. Embora a visão de perto ainda seja melhor que a de longe, o bebê já enxerga bem o suficiente para reconhecer pessoas a certa distância. Por isso, é nessa idade que eles podem se aventurar a engatinhar, explorar objetos, móveis e brinquedos.
Embora o bebê tenha uma boa visão ao completar um ano, o processo de maturação visual continua até por volta dos sete anos ou mais. Aos dois anos, por exemplo, se completa a mielinização do nervo óptico, melhoram a acuidade visual e a orientação vertical, entre outras habilidades.
2 anos em diante
Entre os dois e os cinco anos, a criança começa a desenvolver habilidades de processamento sensorial, ou seja, ela começa a ter a capacidade de analisar as cenas. Entretanto, é só mais tarde que ela terá a capacidade de prever intenções ou objetivos alheios por meio da visão.
Sinais de problemas na visão – Será que a criança precisa de óculos?
Como você viu, o único sistema que se desenvolve fora do útero é o visual. Assim, é crucial que os pais entendam esse processo e fiquem atentos aos sinais que podem indicar problemas na visão.
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Sensibilidade à luz
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Lacrimejamento constante
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Ficar muito próximo à TV
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Entortar o olho para dentro quando precisa usar a visão de perto
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Apertar os olhos para conseguir enxergar de longe
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Dor de cabeça
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Vermelhidão ocular
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Dificuldades oculares e problemas de aprendizagem
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Quedas constantes
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Dificuldades na coordenação motora
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Desinteresse por atividades de leitura e escrita
O que os pais precisam fazer
Antes de pensar que a criança precisa de óculos, a primeira recomendação é levar o bebê ao oftalmopediatra em seu primeiro ano de vida para uma avaliação completa do sistema visual.
Como é possível fazer um exame de visão em um bebê?
Para examinar os bebês e crianças que que ainda não falam, o oftalmopediatra usa instrumentos específicos, como a régua de esquiascopia ou lentes isoladas.
A partir do reflexo da retina, o médico consegue diagnosticar, com precisão, qual o erro refrativo presente e qual o grau exato. Nas crianças maiores, o exame é parecido com o dos adultos, com algumas adaptações.
Por isso, após a consulta, o oftalmopediatra consegue saber se a criança precisa de óculos ou não.
Erros Refrativos
Os erros refrativos podem mesmo passar despercebidos pelos pais e cuidadores. Segundo a International Agency for Prevention of Blindness (IAPB) a baixa acuidade visual afeta por volta de 5,5% das crianças em idade escolar. Em 80% dos casos, basta o uso de óculos para corrigir o problema.
Os erros refrativos mais comuns são:
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Miopia – dificuldade para enxergar de longe
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Hipermetropia – dificuldade para enxergar de perto. Algumas crianças podem desenvolver o estrabismo acomodativo que se resolve com uso de óculos
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Astigmatismo – dificuldade para enxergar de longe e de perto. A visão fica distorcida e borrada
Todas essas condições são resolvidas com o uso de óculos. A correção dos erros refrativos é essencial para o desenvolvimento neuropsicomotor. Além disso, quando não corrigidos, essas condições podem levar ao desenvolvimento da ambliopia, mais conhecida como olho preguiçoso.
Outro lembrete é que as crianças podem ter outros problemas oculares, mais graves, que se detectados precocemente podem ser tratados!
A ambliopia pode causar danos irreversíveis à visão binocular. Portanto, papais e mamães, levem seus pequenos e pequenas a um oftalmopediatra!
O acompanhamento das crianças com erros refrativos deve ser frequente. Isso porque os olhos crescem, como o resto do corpo. Dessa maneira, o grau pode mudar ao longo do crescimento. Nos casos de graus altos, é ainda mais importante, uma vez que podem levar a problemas visuais mais graves.
Quando a criança apresenta nenhuma condição ocular, o acompanhamento com o oftalmopediatra deve ser periódico, com atenção especial na fase pré-escolar e escolar.
A Dra. Marcela Barreira é neuroftalmologista, é oftalmopediatra e especialista em estrabismo.
A médica atende em seu consultório em São Paulo, na região dos Jardins, bem como realiza alguns atendimentos nas cidades do Rio de Janeiro e Sorocaba.
Para mais informações, ligue para (11) 3266-2768
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