Ceratocone é uma doença degenerativa

O ceratocone é uma doença degenerativa que afeta a córnea. Não tem cura.

O péssimo hábito de coçar os olhos pode até ser gostoso, mas é um verdadeiro perigo para a saúde ocular. A fricção continua dos olhos, com o passar do tempo, pode levar ao desenvolvimento do ceratocone, uma doença degenerativa que atinge a córnea, que se deforma e ganha um formato de cone, daí o nome “ceratocone”. A forma cônica da córnea leva ao astigmatismo irregular, com grande impacto da acuidade visual.

Segundo a oftalmopediatra, Dra. Marcela Barreira, a deformação da córnea leva à dificuldade de focar as imagens, levando aos principais sintomas do ceratocone: visão embaçada e distorcida. “Para quem sofre com a doença, ler ou reconhecer pessoas pode ser uma missão quase impossível. Porém, na fase inicial, o ceratocone pode passar despercebido e ser diagnosticado como miopia ou astigmatismo”.

A prevalência estimada do ceratocone é de aproximadamente 50 a 230 casos a cada 100 mil habitantes. Embora relativamente rara, o ceratocone é uma doença de longa duração que se inicia na pré-adolescência. Há um impacto importante na visão e, consequentemente, na qualidade de vida do paciente.

Origem ligada à fricção contínua dos olhos

Um dos fatores mais importantes na origem do ceratocone é a frequente fricção dos olhos (ato de coçar os olhos). Este hábito gera traumas repetitivos que resulta em alterações expressivas na córnea. Acredita-se que coçar os olhos regularmente pode liberar substâncias inflamatórias que alteram o colágeno da córnea, levando à deformação.

A prevalência de doenças alérgicas como a asma, eczema e alergia ocular é maior em pacientes com ceratocone. Por isso, pais de crianças alérgicas devem ficar atentos, já que nessa população o ato de coçar os olhos é comum e frequente. Também há uma ligação importante entre a síndrome de Down e o ceratocone.

Correção de grau contínua chama atenção

O grande problema do ceratocone é que nos estágios precoces os sintomas são os mesmos de qualquer outro erro refrativo, como miopia, astigmatismo e hipermetropia. O que pode ser interpretado como um sinal de alerta é a necessidade frequente de correção do grau ou ainda a diminuição da tolerância do uso de lentes de contato.Nos estágios iniciais, se o médico não solicitar exames específicos, como a topografia de córnea, não é possível fazer o diagnóstico. Com o passar do tempo, essa irregularidade da córnea vai se tornando mais evidente, gerando um astigmatismo irregular  (formato da córnea é muito desigual), sendo um forte indício da presença do ceratocone.

Quando o ceratocone é clinicamente evidente, há diminuição importante da acuidade visual, tanto para perto quanto para longe, associado à miopia e/ou astigmatismo, sensibilidade à luz (fotobobia), cansaço visual, coceira, irritação e desconforto ocular. Alguns pacientes podem ainda ter visão dupla (diplopia), poliopia (percepção de várias imagens de um mesmo objeto), além de feixes de luz e distorção dos reflexos em volta da luz.

Dos óculos à cirurgia

A doença costuma progredir por aproximadamente seis anos. Quando a córnea já está bastante deformada, apenas o transplante de córnea é capaz de recuperar a visão. Porém, antes do transplante, são usadas algumas técnicas para diminuir a progressão da doença ou estabilizar a curvatura da córnea, como o cross-linking.

Esse é um tratamento pouco invasivo e seguro, que se baseia no uso de gotas de riboflavina, um dos tipos de vitamina B. A riboflavina é pingada nos olhos, para, depois, ser usado um feixe de luz UV.  O ultravioleta promove a ligação da vitamina com o colágeno da córnea, fortalecendo-a. Com isso, consegue-se fixar a córnea no formato em que ela se encontra naquele momento.

Prevenir é sempre melhor

Além de levar a criança para uma avaliação com um oftalmopediatra, os pais devem ficar de olho nos maus hábitos. Coçar os olhos pode levar ao ceratocone, assim como a outros problemas oculares. Nem crianças nem adultos devem fazer isso. Outro ponto é monitorar as crianças alérgicas e que apresentam quadros crônicos de alergia ocular.

Quanto a hereditariedade, os estudos mostram que cerca de 10% dos casos são hereditários. Portanto, pais com ceratocone também devem consultar um oftalmologista pediátrico para avaliar a criança.

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