As causas do estrabismo ainda não estão totalmente claras para a comunidade científica. Contudo, existem estudos que apontam algumas hipóteses sobre a origem do estrabismo.
Para falar mais sobre o assunto, hoje vamos entrevistar a oftalmologista infantil, Dra. Marcela Barreira, especialista em estrabismo e Chefe do Serviço de Neuroftalmologia do Banco de Olhos de Sorocaba (BOS).
Estrabismo se desenvolve na infância, na maioria dos casos
Primeiramente, é importante esclarecer que a maioria dos casos de estrabismo surge na infância. A estimativa é que o desvio ocular afeta de 2 a 4% das crianças. “O estrabismo é uma condição em que há desalinhamento do olho, que pode se desviar em várias direções. Ou seja, para dentro, para fora, para cima ou para baixo. Dessa maneira, cada desvio recebe uma classificação”, explica Dra. Marcela.
As principais formas de estrabismo são: o estrabismo convergente (quando o olho se desvia para dentro, em direção ao nariz); estrabismo divergente intermitente (quando o olho se desvia para fora, em direção às orelhas, de vez em quando) e o estrabismo vertical (quando o olho se desvia para cima ou para baixo).
Causas do estrabismo são diversas
Bem, agora vamos falar das causas do estrabismo. A especialista esclarece que nem sempre é possível determinar a causa exata do desalinhamento do olho. Atualmente, há estudos em andamento e alguns estudos já realizados a respeito da origem do estrabismo. Por outro lado, ainda não há um consenso a respeito das causas do estrabismo”, comenta.
Causas do estrabismo podem ser genéticas
O entendimento das bases genéticas do estrabismo é crucial para diagnosticar de forma precoce, o que pode ajudar a prevenir prejuízos no desenvolvimento visual. Mais do que isso, os estudos podem proporcionar a descoberta de novas abordagens preventivas ou terapêuticas.
Primeiramente, as descobertas científicas a respeito da genética do estrabismo mostraram que algumas formas raras de estrabismo são causadas por uma mutação em um único gene. “Algumas dessas mutações são dominantes, o que significa que a criança precisa de apenas uma cópia do gene mutado (de um dos pais) para herdar a condição. Já nas formas recessivas, a criança vai precisar herdar duas cópias do gene mutado (um da mãe e um do pai) para herdá-la”, esclarece Dra. Marcela.
“Contudo, a herança dos tipos mais comuns de estrabismo é mais complexa. As pesquisas na área identificaram vários genes que podem contribuir para a condição. Sendo assim, o que pode determinar o aparecimento do estrabismo é a interação entre os genes e outros aspectos, como os ambientais”, complementa a especialista.
Estudos com gêmeos e irmãos ajudam a mostrar como a genética pode desempenhar um papel importante (mas não exclusivo) no estrabismo. Em estudos com gêmeos idênticos, nos quais um deles apresenta estrabismo infantil comum, o outro gêmeo tem até 82% de chance de desenvolver a condição. Já em gêmeos que não são idênticos, a chance é de 47%.
Afinal, o estrabismo é hereditário?
Sim, o estrabismo tende a ser hereditário. Um estudo de 2023 descobriu que 20 a 30% das pessoas com estrabismo tinham um parente próximo com estrabismo. Alguns tipos de estrabismo podem ter maior probabilidade de ser hereditários. No mesmo estudo, pessoas com esotropia (olhos voltados para dentro, em direção ao nariz) eram mais propensas a ter histórico familiar do que pessoas com exotropia (olhos voltados para fora).
Prematuridade e baixo peso ao nascer são importantes causas do estrabismo
Um bebê prematuro é aquele que nasce antes de completar 37 semanas de gestação. Devido ao nascimento antes do tempo, o bebê pode apresentar diversos problemas de saúde, incluindo condições que afetam os olhos, como o estrabismo. Adicionalmente à prematuridade, temos os bebês com baixo peso ao nascer, que também apresentam risco aumentado para o desvio dos olhos.
Os bebês prematuros estão sujeitos a diversas complicações devido à imaturidade de todos os órgãos e sistemas, incluindo o sistema nervoso central (SNC). Dessa forma, essa imaturidade orgânica também afeta o sistema visual, o último sistema do corpo humano a se desenvolver. Ademais, quando o prematuro desenvolve a retinopatia da prematuridade, também há um risco maior de desenvolver o estrabismo.
Estima-se que de 22 a 47% das crianças que tiveram ROP terão estrabismo e cerca de metade irá apresentar algum grau de ambliopia (olho preguiçoso).
Síndromes genéticas e estrabismo
O estrabismo também tem uma maior ocorrência em crianças que nascem com algumas síndromes genéticas, como a síndrome de Down. Há também uma forma congênita de estrabismo, a síndrome de Duane.
Tabagismo na gravidez é uma das causas de estrabismo?
Segundo um estudo recente, o tabagismo durante a gravidez aumenta em 65% o risco da criança desenvolver estrabismo. Embora a relação entre o cigarro e o estrabismo não esteja totalmente clara, esse e outros estudos comprovaram que filhos de mães tabagistas apresentam maior chance de apresentar desvio do olho.
Conheça outras causas do estrabismo
Adicionalmente ao tabagismo, às síndromes genéticas, mutação e hereditariedade, o estrabismo também pode ter relação com os seguintes aspectos:
- Consumo de álcool na gestação
- Idade avançada da gestante
- Complicações neonatal como icterícia, infecções e qualquer condição que afete o sistema nervoso central, especialmente com danos nos músculos oculares
- Diferença de grau muito alta entre os olhos
- Hipermetropia – responsável pelos casos de estrabismo acomodativo
Conclusão – Causas do estrabismo são inúmeras
Como vimos ao longo do artigo, existem várias causas do estrabismo. Por outro lado, nem sempre será possível determinar a origem exata do desvio ocular. Acima de tudo, o mais importante é levar o bebê em seu primeiro ano de vida a um oftalmologista infantil, para uma consulta de rotina.
“Ademais, é importante realizar consultas de rotina ao longo da infância, bem como procurar o oftalmopediatra, caso a criança apresente desvio do eixo ocular, entre outros problemas de vista. Por outro lado, também é importante que os pais informem ao médico se há casos de estrabismo na família. Cabe também durante a anamnese levantar o histórico da gestação e dos primeiros meses de vida da criança”, ressalta Dra. Marcela.
“Felizmente, o estrabismo tem tratamento por meio de cirurgia, que deve ser feita na infância. Apenas o estrabismo acomodativo, aquele causado pela hipermetropia, é corrigido pelos óculos de grau”, finaliza a médica.
Dra. Marcela Barreira é oftalmopediatra, especialista em estrabismo e neuroftalmologista.
O consultório fica em São Paulo, capital.
Para mais informações, ligue para (11) 3846 02 00
Matéria produzida pela jornalista Leda Maria Sangiorgio – MTB 30.714
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